A jovem cantora e compositora colombiana Victoria Saavedra é sinônimo de
sonoridades latinoamericanas em transito pelo tempo e espaço. Sua
música transcende e transpassa as extensões continentais ao mesmo tempo
que conecta as antigas tradições com a contemporaneidade. A mais
lapidada prova disso é o seu delicado e autêntico primeiro trabalho
autoral, Remanso entre Raizes (2017), álbum que tem como ponto de
partida o universo da canção latino-americana, com elementos rítmicos e
matizes da música africana e da música brasileira. Victoria Saavedra
escolheu, há 7 anos, São Paulo como sua base irradiadora, onde conta com
grande reconhecimento. Prestigio resultante da ressonância dos seus
múltiplos projetos como Candombá, Moçuba, Mateus Porto e Victoria
Saavedra, Orquestra K, e o espetáculo de música e dença Mar Alto em
parceria com a dançarina Marina Abib. Cantado em espanhol e português,
Remanso entre Raízes é um mosaico de gêneros musicais onde se sobressai a
qualidade dos arranjos, a criatividade compositiva e o inconfundível
timbre e potência vocal da cantora Victória Saavedra.
Natural da cidade de Neiva, Victoria veio a São Paulo em 2010 para
estudar música na faculdade Souza Lima, com a intenção de passar dois
anos, que acabaram se transformando em sete. “O Brasil era um país
latino que eu ainda precisava explorar”, explica, ao contextualizar que
sempre voltou os estudos para os ritmos da parte sul do continente
americano.
E Remanso entre Raízes
é o resultado puro dessa pesquisa musical. As dez faixas atravessam sem
dificuldade as fronteiras entre o país de origem e o atual lar da
cantora, tanto no idioma dos versos, como nos arranjos e nas harmonias. O
disco é dividido igualmente entre composições em português e espanhol,
uma estratégia utilizada para driblar a barreira musical existente no
Brasil em relação à produção dos outros países latino-americanos.
“Uma
das minhas intenções é fazer com que as pessoas entendam que o Brasil
faz parte da América Latina”, confessa. “Para mim foi bem estranho
quando cheguei aqui e tive a sensação de que estava muito distante,
quase como em outro continente. Quando eu falava que era colombiana, as
pessoas me perguntavam se eu cantava música latina, o que foi engraçado,
já que em outros países, música latina não é sinônimo só de cumbia, mas
também de samba e bossa-nova.”
O LP conquista pela musicalidade
complexa. Além dos instrumentos base de percussão, tocados por Mateus
Prado, do baixo de Pedro Dona e do violão de Luca Frazão, ao longo do
álbum, as faixas ganham nuances de cuatro, korá, kalimba, guasá, marimba
e violino, sons que ditam a pluralidade da produção.
As
letras, que falam sobre lugares de origem, pertencimento e empatia, são
acompanhadas por melodias que refletem a vivência latina de Victoria.
“Vuelos de Maria”, música que abre o disco, traz, por exemplo, uma
melodia calcada no landó, ritmo afro-peruano, enquanto a segunda faixa,
“Passam”, oferece um embalo brasileiro, emprestado do xote. Um
redescobrimento do significado de música latina.
* Anna Mota
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